sábado, 22 de dezembro de 2012

Fonte: Vídeo criado por alunos da Oi Kabum! Belo Horizonte, enviado pela portugaltelecom em 27/11/012


POESIA
Para Ana Martins Marques

Às vezes
me vejo nela
nas vezes
em que quero me ler.

E das vezes
em que me leio
nela te vejo,
enquanto ela me lê.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Letra e música: Adriana Calcanhotto
Álbum: Cantada
Gravadora: SONY
Selo: Ariola
Show em comemoração aos 35 anos de carreira de Maria Bethânia

sexta-feira, 16 de novembro de 2012


Clipe: Para onde irá essa noite?
Artista: Lucas Santtana
Álbum: O que Deus devasta mas também cura (Díginois Records)
Direção: Emílio Domingos.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

O silêncio e a palavra



Quebrar o silêncio
e depois recolher
os pedaços
testar-lhe o corte
o brilho
cego


(Ana Martins Marques) 




Quebrar o silêncio não é algo fácil, porém necessário. E o problema não está somente na produção do som; talvez a sua intensidade esteja alojada ainda mais funda, nos confins e contornos que o silêncio desenhou. Por isso, certamente, que com a tal quebra do silêncio, com a produção da palavra, muito do que queremos dizer não aparece de forma explícita, a intencionalidade primeira parece esconder-se por detrás de cada palavra dita, escrita – a intencionalidade é da ordem do silêncio. Provavelmente, esta seja uma das razões que justifique essa necessidade e desejo humano em querer dizer, mesmo em palavras não ditas. E para captar essa indizível, porém latente intencionalidade, o poema parece nos dar uma boa pista. Mas não é tão fácil quanto parece juntar os cacos do silêncio com a argamassa da palavra. Isso requer talento, sensibilidade e risco. Veja como faz o arguto arquiteto que, suficientemente habilidoso e espirituoso, traça os movimentos interpretados por sua percepção da vida, suportando os riscos das possíveis opacidades que seu projeto possa apresentar.  E a natureza da palavra parece carregar também certa dose de opacidade. E para comprovar esta constatação, basta apenas observar o quanto sua utilização pode suscitar mal-entendidos. A palavra nunca está sozinha, ela se avizinha e tece suas sombras com o colorido dos diversos sentidos que o contexto possa lhe oferecer. (Certamente por isso que a utilização da palavra seja um traço fundamental na definição do homem enquanto ser gregário, relacional, provisório e multifacetado).  Por esse motivo que na construção do sentido, a partir da quebra do não dito, as fissuras, as clivagens são por demais necessárias; elas que vão permitir ao outro o acesso à intencionalidade da palavra, vez que implícito está os seus muitos sentidos.  A trama interpretativa se dará, portanto, entre silêncio e palavra.  Às vezes, tenho a impressão de que a palavra em si, o que se nos apresenta empiricamente através do texto – falado ou escrito –, uma vez liberto do seu autor, tem o seu sentido deslocado, desconjuntado, possibilitando que, em sua viagem, incorpore diversas vozes, vários sons, outros tons. E a cor da palavra ficará ao gosto de cada intérprete, e o intérprete irá fazê-lo bem se bem auscultar o som inaudível do silêncio que intercala a palavra. A interpretação do silêncio produzido em palavra, ao que parece, necessita de um cálculo preciso e sensível – preciso no fazer e sensível no dizer.  Poder-se-á, assim, tecer o silêncio, selecionar-lhe o melhor remendo, tricotear por sua superfície, desafiar a fio o seu tecido difuso...

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Lauren Bentley - Reprodução


O Amor

Faz algum tempo
não encontro
você:

Pendurado no meu
guarda-roupas
distraído nos cantos
da casa
enfeitado passeando
lá fora...

Receio que esteja aí
esquecido entre
um poema
e outro 

terça-feira, 10 de julho de 2012

Woman at the Window - Salvador Dali - Reprodução
ANTIQUÁRIO
     Para Sandra Pereira

Guardo na lembrança
o desenho no céu
os estilhaços de nuvens
os raios de sol
a brisa que invadia a sala
         ...
 –– aquela manhã.

Ainda guardo na lembrança
(aquele tempo)

sexta-feira, 20 de abril de 2012


AUGUST MACKE, A esposa do artista.Reprodução  


Em algum lugar
            Para a Grande dos Olhos d’Água

No íntimo desta casca,
onde me encontro perdido
diante de cada palavra
polida e afiada e
grudada em tua poesia,
esqueço-me para sempre. 

quinta-feira, 12 de abril de 2012

HADRIANUS

Quando nasci, minha mãe me abrigou sob um nome de imperador. Ainda criança, não me conformava com a força desse nome, e ela me recomendava: muito cuidado, meu filho, pois a vida é frágil e distraída como uma folha seca que voa no vento. Foi assim que, entre uma queda e outra, aprendi a andar. Foi assim que risquei o presente de um rio que corre sem margens, e um nó apertou-me a garganta feito um passado que a saudade afoga. Foi assim, enfim, que me perguntei sobre o que restou daquela luz, daquela prece desgastada que rogou por aquilo que desde a infância ainda não sou. 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012



       AGRIDOCE,

      as tuas palavras, sim, eu as li,
      Ornadas de poemas para Antonio, para pessoas...
      Palavras tuas também adornadas com lembranças infinitas.
      Teu opúsculo, eu o li e consumi,
      E me atravessa como o tempo e a brisa da manhã.
      Teus versos – belos e tristes e cheios de poesia –
      Abriram-me as comportas de um rio sem fim,
      E seguem leves e densos e transbordam sobre a minha existência.
      E tocam as lembranças embrulhadas num livreto
      Cobiçando eternidades de uma menina terna
      Que com tranças longas costura a memória
      Da vida vivida no curso do Rio dos Morcegos,
      Notando a serenidade de um pai já distante e eterno como o tempo.

            

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Ana Mendieta, Série Silhuetas, 1973-1977. Reprodução


VIDA SOTURNA

Corpos mortos, sonhos mortos.
Mortos e dilacerados
os corpos apodrecem nos hospitais,
mortos por homens:
policiais, marginais, médicos...

– Tanto faz.

Mortos são sempre mortos,
corpos, e nada mais.
  

Post Vanilda Castro

sábado, 31 de dezembro de 2011

  
  ROMANCE
  Chico Buarque

  Te seqüestrei
  Vou te reter pra sempre
  Na minha idéia
  No teu lugar, talvez
  Fique alguma tonta, uma dublê
  Uma mulher alheia

  Na minha idéia
  Vives plenamente
  És a pessoa
  Com todas as canções
  Os momentos bons e as horas más
  Que a memória coa

  Nas horas à toa
  Às vezes ando a cismar

  Serei eu mesmo
  Este cantor confuso
  Que te rodeia
  Ou estarei feliz
  Sendo eternamente o que já fui
  Dentro da tua idéia

  

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

DÍVIDAS



No caixa eletrônico
(mês a mês)
por dever e sacerdócio
ela resolve a obrigação.

No correio eletrônico
fim de mês
sob o peso do divórcio
confirma adeus em prestação.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Gustav Klimt, O Beijo, 1907

 
As cores da tua palavra ainda tingem a memória – aquelas ficções discutidas sobre a realidade afora –, e os vestígios dos cheiros dos sábados e domingos perfumam o travesseiro molhado com as águas da lembrança de corações confortados enquanto a ausência semanal gozava férias, espírito e matéria friccionavam-se em busca de um só corpo que hoje carrega com pesar a saudade (essa coisa que enche o coração de vazio), e faz com que se inscreva por dentro do peito aquela palavra invisível chamada desejo.